Evolução e Nostalgia (As Suas Duas Faces)

O quanto a nostalgia pode nos privar de nossa evolução pessoal?

O texto seguirá três tópicos:
- Evolução
- Sua influência em análises e interpretações
- A nostalgia saudável

A nostalgia tem seu lado positivo, de nos trazer belas recordações de nossa história, mas ao mesmo tempo carrega um potencial perigo que pode nos prender ao passado e tirar nosso senso crítico.

(Evolução)
Em alguns momentos nossa evolução pessoal fica presa em nossa nostalgia, quando essa nostalgia é alimentada por alguma dor (trauma), uma tristeza que nos faz enxergar no passado um refúgio no qual desejaríamos estar lá, e não queremos que o tempo passe, pois pelo menos lá, nesse passado confortável, não tínhamos a dor que temos hoje (e isso nos impede de evoluir, a tristeza é um dos empecilhos para nossa evolução, apesar da evolução brotar da tristeza, mas nesse caso só quando ela é vencida e superada).
E essa nostalgia, "romantização do passado", muitas vezes está atrelada a algo, um objeto, alguma mídia que serve de ligação a esse passado. Isso de alguma forma está relacionado ao colecionismo, quando ele se torna uma fuga do presente, onde um objeto que marcou positivamente um indivíduo se torna alvo de carinho na fase adulta.

Assisti um vídeo uma vez de um homem que transformou seu quarto num cenário com aparelhos e decoração relacionado aos anos 90, pois para ele aquela década foi tão especial que ele queria trazer para perto de si tudo o que lhe fazia lembrar daquele tempo.

É claro que o ato de colecionar não está ligado diretamente a esse apego melancólico ao passado, e isso sendo construído pela "nostalgia saudável", é uma forma carinhosa de recordar uma época que lhe traz boas lembranças, assim como tem pessoas que colecionam livros que lhe marcaram, filmes, brinquedos, eletrônicos, cada um tem a sua forma de relembrar e resgatar o passado, assim como os antigos álbuns de fotos.

Mas esse apego a um objeto (que nada mais é que uma chave que liga a determinada memória), pode ser positiva, sendo só um carinho especial, como por exemplo um relógio ganhado na infância que você guarda de forma carinhosa, mas isso também pode se tornar obsessivo, esse apego exagerado ao passado, como se apenas o passado fosse bom.

Existe uma música chamada “Meu Pranto a Deslizar” de Deny e Dino, colocarei a letra dela aqui, mas recomendo que ouça. Uma canção da jovem guarda que retrata bem esse sentimento melancólico de romantizar o passado pelas feridas do presente.

Na luz de um triste entardecer
Vejo crianças que a correr
Vão sorrindo por aí
Enquanto eu sinto vontade de chorar

À luz do triste anoitecer
Correm felizes, sem saber
Que também já fui feliz
Fazem tudo que eu já fiz
Num tempo que não volta mais

Vendo a alegria de viver
Dessas crianças a brincar
Lembro sem querer que eu
Já fui feliz
E hoje vivo a chorar

Todas pessoas carregam dentro de si um momento especial da vida, e muitos transformam essa fase em algo intocável que se tivessem a oportunidade ficariam presos nela, e valorizam demais esse momento, desejando que acontecesse novamente, fazendo com que a vida fique presa nesse espaço tempo, não aceitando nada novo.
(E isso interfere em seu olhar do presente, fazendo com que tudo que é novo seja ruim e só aquilo que fez parte do passado é que é relevante).
É claro que momentos especiais todos nós temos, mas prisão acontece quando enxergamos que só o passado valeu a pena em nossa vida, as vezes motivado por uma profunda dor do presente, queremos voltar ao passado e não sair de lá.
E isso nos faz desprezar o presente impedindo nossa evolução, seja ela de adaptação ou de consciência. Não nos permitindo conhecer o novo e olhar adiante.

(Senso crítico)
A nostalgia também pode influenciar muito nossa interpretação em relação as pessoas e aos objetos ao nosso redor.
Mas focarei especificamente em relação a nossa análise diante de mídias e obras artísticas, como por exemplo um filme.
No meu texto, também presente nesse blog, chamado "A Nota (Avaliação) de Fato Determina se Algo é Bom ou Ruim? Eu digo que nossa experiência de vida influencia em determinar se algo é ruim ou bom, quando duas pessoas terminam de assistir um filme, uma pode gostar enquanto a outra pode desprezar, o filme é o mesmo, o que mudou foi o olhar, e o olhar é moldado por nossas experiências pessoais, (quando não existem problemas técnicos, seja de direção ou atuação, que é algo mais estrutural, o que sobra é interpretativo, e ela varia de pessoa pra pessoa, por isso dizer que algo é ruim ou bom através da interpretação é complicado), então muito mais que dar notas a algo, o que realmente vale no final é a experiência pessoal e a visão de mundo de cada um.
Mas a nostalgia também pode influenciar na análise e notas de algo, como por exemplo no caso de músicas, livros, quadros, filmes.

Existem muitos casos em que assistimos um filme na infância e adoramos, e nossa memória carrega esse carinho especial, mas isso não quer dizer que o filme seja bom, mas apenas que ele trouxe para nós boas lembranças. O filme é só a porta para uma memória de acontecimentos bons que aconteciam a nosso redor na época em que assistimos, e sempre que lembramos dele automaticamente tudo aquilo que era bom a nossa volta também retorna com as boas memórias.

As criticas aos remakes, como exemplos de O Brinquedo Assassino 2019, Poltergeist O Fenômeno 2015 ou O Grito 2004, estão envolvidas na nostalgia ou é uma critica técnica? Esse é um ponto importante, quando criticamos um remake ou uma reimaginação, estamos respeitando demais a obra original ou de fato a crítica ao novo é uma sincera análise a seus erros técnicos? Quase sempre essas criticas estão envolvidas em muita nostalgia. Agora a pergunta, a análise baseada em nostalgia é certa ou está mergulhada na emoção? Se é emoção podemos levar nossas criticas como sinceras e verdadeiras? Se deixarmos a nostalgia de lado e analisarmos um remake ou qualquer outra mídia apenas em sua parte técnica nossa análise mudaria? É uma reflexão a se fazer.

(A nostalgia saudável)

Obviamente a nostalgia não é ruim quando fazemos dela apenas uma memória carinhosa de um momento especial que passou.

É saudável carregar em nós lembranças boas, e entender que elas fazem parte do passado e não devem ser alimentadas com um saudosismo que nos impede de seguir em frente.
Carrego em mim, nas lembranças da adolescência, os bons momentos a minha volta onde paralelamente acompanhava diversos desenhos que passavam na TV Cultura como O Pequeno Urso, Arthur, As Histórias do Velho Urso, e as novelas que passavam no SBT no inicio de 2000.
Onde cada um desses desenhos e novelas me fizeram resgatar memórias do que acontecia em minha vida naquela época.
Da escola, dos amigos, de jogar bola na rua, de ir na locadora alugar filmes, tudo isso me traz alegria.
Me lembro nitidamente da abertura de Carinha de Anjo, apesar de todo o tempo passado me recordo de forma bem clara das cenas, da música, e do que acontecia em casa naquele tempo, uma simples novela se tona uma chave para me trazer todas essas sensações.
Outra novela que me traz boas lembranças é Amy, A Menina da Mochila Azul, que possui uma abertura muito divertida e uma música tema que nunca saiu da minha memória.
O Diário de Daniela também foi outra novela que me marcou muito. Cito essas novelas como elemento dessa nostalgia saudável, pois elas fizeram parte constante de meu passado, assistia todos os dias e me trazem boas lembranças.
Inclusive há muito tempo eu não conseguia me recordar de uma novela que passava antes de Viva as Crianças - Carrossel 2, só me lembrava da música de abertura, e depois de muito tempo descobri que se chamava Primeiro Amor a Mil por Hora, foi muito legal ter achado ela, pois apesar de não ter sido uma novela que tenha me marcado muito, digo em relação a história e personagens, era uma novela que me marcou por causa de sua música de início.
A nostalgia é algo poderoso, que traz sensações poderosas, e temos que saber lidar com essas emoções. Quando aprendemos a dominá-la e não permitimos que elas nos dominem, a nostalgia se torna algo maravilhoso.
Deixarei a música tema da abertura da novela Luz Clarita, que pra mim tem a canção mais bela de todas.



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