Muitas obras artísticas, seja filmes, músicas, pinturas ou jogos, recebem remakes, ou as vezes são reimaginados. Mas os remakes, especificamente nos filmes, são necessários? Até que ponto as mudanças podem manter a essência original?
O grande problema do remake em filmes, é que se o escritor, roteirista ou diretor (o criador original) não estiver envolvido, a visão/essência do seu criador se perderá, pois teremos uma outra mente envolvida, e ninguém pensa igual o outro.
Uma alternativa, caso o autor original não esteja envolvido no projeto, é o remake seguir perfeitamente a obra original sem querer acrescentar ou mudar a história ou cenas.
Existem muitos remakes que fazem mudanças bruscas na obra original. (Se tornando quase uma reimaginação).
Por exemplo o filme Kairo de 2001, do diretor Kiyoshi Kurosawa. O filme é um suspense psicológico muito bom que trata sobre o vazio interior em nós humanos e usa a tecnologia da internet para construir seu roteiro. O remake americano "Pulse" feito em 2006 sai completamente da ideia original de Kairo, ele se transforma num filme comum de terror e toda a questão existencial de Kairo é perdida. (A mudança de roteiro foi tão grande que podemos dizer que ele é uma reimaginação).
Quando você pega um filme asiático e entrega para um diretor americano fazer um remake, por toda questão cultural, e a diferença de cada cultura entender e sentir o medo/terror, as mudanças acontecem, é normal, pois teremos ali uma visão diferente de um diretor.
Sempre quando obras novas são feitas baseadas em outras, é natural ter mudanças, pois a visão de cada ser humano é única, e é essa mudança inevitável de visão o grande perigo do remake.
O remake tem muitas coisas envolvidas, uma delas é a nostalgia. Mas antes vou pegar dois pontos que pra mim influência a aceitação do público, que é a mensagem e a parte técnica. A mensagem seria o objetivo do roteiro, por exemplo, no filme Sinais de 2002, ou em quase todos filmes de Shyamalan, seus roteiros possuem uma mensagem por traz, se um remake de Sinais ou O Sexto Sentido for feito, e se mudarem a ideia original do roteiro, obviamente o filme terá críticas. Em filmes como esses, que possuem uma mensagem, o remake pode até fazer mudanças técnicas, como de cenários e direção, mas sem perder a essência da narrativa, nesse caso, mesmo com as mudanças técnicas, acredito que o público aceitaria, desde que a essência, a mensagem da narrativa original seja mantida.
Na mídia dos jogos, vemos um grande exemplo disso no roteiro de Silent Hill 2 lançado em 2001, sua história tem um objetivo, ela explora questões do interior do ser humano, o medo interno, nossos traumas, nossos monstros pessoais.
Se um remake de SH2 vem e muda essa ideia, esse objetivo, essa reflexão que o jogo traz, acredito que todos que jogaram SH2 irão criticar, pois a mensagem original do roteiro foi mudada, agora, se existem mudanças técnicas, seja de gameplay ou acrescentando novos cenários e personagens, mas mantendo a mensagem original, acredito que não haveria tantas críticas pois apesar das mudanças a mensagem original permaneceu, as mudanças apenas enriqueceram mais o roteiro.
Pulse, remake de Kairo mudou a mensagem do filme, tirando toda a metáfora do filme original e se transformando num filme de sustos.
Mas os filmes de Shyamalan e Kiyoshi Kurosawa possuem uma mensagem, uma reflexão em seus roteiros, e mesmo tendo mudanças técnicas, acredito que um remake daria certo mantendo a ideia original do roteiro.
Agora, qual a mensagem de filmes como Sexta Feira 13, O Brinquedo Assassino, O Massacre da Serra Elétrica? São bons filmes e clássicos do terror, mas eles tem suas propostas bem diretas e óbvias, fazem parte de um subgênero diferente de Kairo 2001 ou Cure 1997 por exemplo, que usam do terror psicológico para trazer uma mensagem em seu roteiro. Geralmente filmes slasher estão mais focados em entreter o público do que trazer uma reflexão mais profunda sobre algum tema.
Não há um objetivo de transmitir algo complexo na história de Sexta Feira 13, a não ser diversão, então, em caso de filmes como esse, um remake só terá a parte técnica para mudar, e uma mudança na parte técnica poderá gerar críticas do público, que está familiarizado com a obra original.
Agora em Kairo, você tem um roteiro complexo por traz, você pode mudar a parte técnica, como acrescentar novas cenas ou personagens, mas sem mexer em seu roteiro, acredito que mesmo mudanças técnicas em caso de filmes como esse, que possuem uma mensagem, eles ainda serão bem avaliados.
Então, mudanças técnicas e de direção podem ser mais bruscas dependendo da proposta do filme, como por exemplo a diferença de propostas do gênero psicológico e do slasher.
Agora entra a questão da nostalgia, ela pode ser boa ou ruim.
As criticas aos remakes de O Brinquedo Assassino 2019, Poltergeist O Fenômeno 2015 ou O Grito 2004, estão envolvidas na nostalgia ou é uma critica técnica? Esse ponto é um pouco complicado, quando criticamos um remake que não tem ali uma proposta psicológica por traz, onde só temos a parte técnica para avaliar, quase sempre essas criticas estão envolvidas em muita nostalgia (quando no caso não há muita diferença técnica do original para o remake). Agora a pergunta, a análise baseada em nostalgia é certa ou está mergulhada puramente na emoção?
Se é emoção podemos levar nossas criticas como sinceras e verdadeiras? Se deixarmos a nostalgia de lado e analisarmos um remake só em sua parte técnica nossa análise mudaria? É uma reflexão a se fazer.
Agora entramos na questão da reimaginação. Acho que na reimaginação a possibilidade de mudanças são grandes, tanto de roteiro quanto na parte técnica, e acho que aqui não deveria entrar uma comparação entre original e reimaginação, pois são histórias diferentes, apenas usando o mundo e personagens do roteiro original.
Ao criticar a reimaginação de Brinquedo Assassino automaticamente lembramos do primeiro, mas o certo é deixarmos a nostalgia de lado e analisarmos ele a parte, pois uma reimaginação não tem compromisso em seguir a história original, apesar de entender que é inevitável a comparação.
O jogo Silent Hill Shattered Memories é claramente uma reimaginação do original, devemos analisá-lo a parte e não de forma comparativa, sendo que a proposta dele é ser justamente uma nova abordagem da história original.
É uma obra diferente de remakes que tentam seguir a história original, sem mudar a obra original.
No caso de remake, quando ele tem mudanças (que devem ser pequenas) qualquer mudança será criticada. Por isso que muitos remakes infelizmente acabam tendo péssimas avaliações. (Quando são influenciados pela nostalgia e não pela critica da obra em si).

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