Sandrinha sonhando, quem dera, um sonho possível (Poema)


Sentada na frente de casa, no cortiço onde nasceu.
Apenas 9 anos de idade pensando no passado e nos detalhes que a 1 ano ocorreu.
Em sua casa, sozinha, já era noite e ela dormia.
A sua mãe trabalhando, quem imaginaria que nesse dia a sua vida mudaria.
Faltou luz no cortiço, pobre Sandrinha, sem querer colocou fogo em sua cama.
Teve seu rosto queimado, desespero dos vizinhos, por sua mãe ela clama, lágrimas caem,
o sofrimento em sua alma inflama.
Uma menina que antes brincava e vivia sorrindo.
Agora passa as tardes escondida e chorando no pequeno cortiço.
Presa em seu mundo de dor e punição.
Se odiando por tudo, enchendo de tristeza o seu coração.
Quem lhe ajudará, quem vai querer a sua companhia?
As outras crianças tiram sarro de sua aparência, dão risadas de suas feridas.
Cicatrizes que lhe acompanharam pelo resto da vida.
Não apenas as do seu rosto mas também na alma que são mais doloridas.
Deseja fugir para algum lugar, ficar sozinha para sempre.
Já cansou dos conselhos de seus vizinhos dizendo para ela superar a dor e seguir em frente.
A sua mãe lhe chama, provavelmente por ter sumido imagina que irá receber alguma bronca.
Mas ela pede a sua ajuda para dobrar as roupas.
Sandrinha se sente útil, fica feliz em poder ajudar.
Por um breve momento esquece das dores, e de tudo que lhe faz chorar.
Ela gosta de estar na companhia de sua mãe, infelizmente ela passa o maior
tempo do dia no trabalho.
A sua vizinha a velha Zú tem cuidado dela, não confia mais em deixar a menina sozinha
depois daquele dia trágico.
Velha Zú é tão boa com a Sandrinha, compra presentes para ela todos os dias.
Ontem lhe comprou um radinho de pilha, quando viu o presente sorriu de alegria.
Lhe deu um abraço e agradeceu tão feliz pelo radinho que ganhou.
Se esqueceu de sua aparência e teve um momento de felicidade, a velha Zú a trata
com muito amor.
Coitada da Zú, seu marido está internado no hospital, vítima de um atropelamento.
Os médicos disseram que não há muita esperança, mas ela sabe que ele está quase morrendo.
Estar na companhia de Sandrinha é um meio para ela esquecer desse sofrimento.
Da mesma forma a menina se sente bem ao lado dela, uma ajudando a outra contra as suas inseguranças e medos.
Hoje a velha Zú teve que ir visitar o marido, não parece ser algo positivo, ela saiu correndo
de sua casa, coitada, parecia desesperada.
Sandrinha fica triste por ela, hoje ela terá que ficar sozinha, a sua mãe chegará apenas de madrugada.
Tenta se enturmar com as outras crianças, mas ninguém quer ter a sua amizade.
Ela daria tudo para ter a sua aparência de volta novamente, pra poder sentir a felicidade.
Pra não ser mais xingada, não ser mais rejeitada.
Só queria se sentir normal, não ser maltratada.
O dia passa, a noite chega, sandrinha está escondida sozinha debaixo do tanque de roupa do cortiço.
Perdida em pensamentos, com o coração machucado e dolorido.
Ela ouve alguém chorando, era uma mulher se aproximando, ela coloca a cabeça pra fora do
tanque e percebe que era a velha Zú que estava chegando.
Chorava descontrolada, seguia rapidamente para sua casa, algumas vizinhas lhe chamaram, mas ela entrou sem dar uma palavra.
Sandrinha sente a dor da velha Zú, a unica amiga que ela tem naquele lugar.
A menina também começa a chorar, encolhida debaixo do tanque naquela noite fria, queria poder
voar dali e nunca mais voltar.
Chora pela sua aparência, por suas feridas, pelas maldades que recebe em seu dia a dia, chora pela velha Zú, e chora por sua mãe que também tem sofrido.
Trabalhado duro para dar uma vida melhor para sua filha, Sandrinha deseja ser feliz, será que isso é possível?
Será quem um dia o sorriso voltará em seu semblante? Existirá finalmente alegria?
Nessa noite ela só quer chorar até a sua mãe chegar, quem sabe amanhã um milagre aconteça, se
transformando em um belo dia, em um dia em que sonhos possam ganhar vida, em um dia de paz para Sandrinha.

Versão recitada do poema:

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