Qual o Objetivo de Uma Obra Artística? A Essências Nos Jogos

A evolução na criação de jogos para vídeo game está em sua parte técnica ou em seu significado?
Podemos considerar a essência de um jogo a verdadeira evolução de uma geração?

Nesse mar de filmes, músicas, livros e jogos que temos atualmente, quais deles realmente nos marcaram? Quais deles terão um significado para nós no futuro?
É difícil dizer, na verdade poucas coisas tem o poder de deixar algo especial em nós, de eternizarem em nossas memórias.
Essa pergunta é essencial não só para a evolução dos jogos, mas para qualquer obra artística.
A essência em nossas criações estão recebendo a valorização que de fato merecem? Ou apenas a sua parte estética é alvo de análise? Não apenas estética mas também técnica. A direção em um filme é importante, mas o quanto ela deve se sobrepor a essência da narrativa? Ao significado que a história possui.
Essa é uma reflexão não só para a evolução da arte mas também para a evolução de qualquer ser humano, já que para mim um de nossos objetivos é nos tornamos importante para alguém, marcamos positivamente a vida de uma pessoa.
E toda criação artística que fazemos deve estar caminhando para esse objetivo.

Acredito que o objetivo de todo artista é fazer com que sua obra seja importante para quem a desfruta, que a música do compositor se torne importante para a vida de quem a ouve, que uma pintura gere a empatia emocional em quem observa. E se considerarmos vídeo game obras de arte, todo o objetivo de um desenvolvedor de game é fazer com que seu jogo se torne especial para os jogadores, que ele represente um marco na vida de quem joga, que seja eternizado em sua memória.

Mas é claro que nem toda arte é feita com esse pensamento, e nem todo jogo é feito com esse objetivo, mas será que não é nesse ponto onde deveria ocorrer a mudança? Será que não é essa evolução que precisamos? Uma evolução de significado e não apenas de técnicas, e no caso dos jogos uma evolução que não ocorra apenas na parte gráfica e sua mecânica.
Será que na industria dos jogos eletrônicos não estamos perdendo tempo discutindo números, poder, processamento, enquanto o significado da criação de um jogo e como ele pode impactar a vida de um jogador está sendo esquecido?
É claro que técnicas são importantes, é através dela que uma obra é feita. Todo pintor tem sua preferência ao pintar um quadro, existem padrões a serem seguidos, mas o significado de um quadro é maior que sua parte visual. O sentimento que o pintor quis passar com sua pintura, o significado dela tem que ser maior que a técnica utilizada, pois se nossa análise ficar apenas com a questão visual, ela se torna vazia de essência.

Na verdade nenhuma evolução é fácil, ela é feita de sacrifícios, e a maioria não está disposta a mudar.
Regras existem e precisam ser respeitadas, mas a arte é livre para quebrá-las.
Tantas músicas com belos arranjos, filmes com fotografias belíssimas, livros com impressões e capas agradáveis, mas vazios em conteúdo, as técnicas evoluem, mas a essência diminui.
O ser humano evolui quando ele olha para a sua criação com o potencial de impactar positivamente outras pessoas, e não apenas buscando lucros e tendências do mercado.

O que será dos jogos daqui para frente? Qual será a evolução? As grandes desenvolvedoras estão mais preocupadas em evoluir a sua parte gráfica do que nos apresentar um significado em sua narrativa.
Uma escolha obviamente normal se entendermos o risco que essas empresas teriam ao tentar inovar em um mercado já estabelecido.
Olhamos a nossa volta e sentimos um estranho vazio, um vazio de significado, semelhante ao vazio que muitos sentem sobre suas vidas, onde olham para dentro de si e não enxergam significado em si mesmos.
Nos perguntamos, qual é a evolução apresentada nas últimas gerações dos vídeo games? Por que novos aparelhos estão sendo lançados se ainda a muito o que se aproveitar da geração atual?
É claro que tecnologias evoluem, e é normal que novos aparelhos mais avançados sejam lançados. Mas junto deles é preciso haver uma essência para sua produção.
Acho que no final falta significado, e talvez a maior evolução que temos seja de poucos desenvolvedores que não enxergam em suas criações apenas a oportunidade de lucrar, mas de impactar a vida das pessoas, talvez já tivemos grandes evoluções nessa geração e não percebemos, talvez Kojima com Death Stranding foi uma boa evolução que passou despercebida, não em seus gráficos, mas em sua proposta, em sua visão diferenciada de ver nos games um potencial que outros desenvolvedores não enxergam, de fazer algo diferente. Talvez não percebemos a evolução que Fumito Ueda fez em Ico e Shadow of the Colossus, onde nos trouxe uma possibilidade narrativa diferenciada que até então poucos tinham explorado, a possibilidade de se fazer arte com um jogo, e de contar uma história com poucos diálogos, deixando o expectador fazer suas interpretações.

Muitos jogos e obras artísticas se tornaram evolução de seu tempo, mas não foram reconhecidos como evolução, pois não eram esteticamente e tecnicamente agradáveis, e no caso dos jogos, não estavam dentro do que chamamos "atual geração".
O conteúdo de um livro deve ser mais importante que a habilidade do escritor em escrever, não estou defendendo um livro com escrita ruim, é importante para o escritor saber expressar adequadamente suas ideias, e as editoras irão dar atenção para isso.
Mas o que digo é que o significado que o escritor quer passar em sua narrativa deve ser mais importante que sua técnica de escrita.
A história de um filme deve ser mais importante que a direção, é claro que direções ruins tiram o brilho de uma boa história, mas nunca deve ser o foco principal no desenvolvimento de um filme.
E sim a ideia que o diretor e roteirista querem passar com sua história.

Na industria dos jogos, não será essas evoluções apresentadas por esses desenvolvedores que necessitamos para o que chamamos de nova geração? Será que a grande evolução não está na forma como um jogo é visto e interpretado pelo desenvolvedor, e não de sua qualidade gráfica? Será que a evolução não está na forma que interpretamos nossa criação?
Um diretor de cinema pode querer usar o gênero do terror para fazer um filme divertido e assustador, enquanto outro diretor enxerga o gênero terror com um olhar diferente e vê nesse gênero uma grande oportunidade de explorar os terrores humanos, do psicológico humano, e usar o terror para tratar de temas da psicologia.
Kiyoshi Kurosawa, diretor de filmes como Kairo (Pulse) 2001 e Cure 1997, vê no terror um espaço para expor o pior do ser humano, colocando em seus filmes nós contra nós mesmos, mostrando que o verdadeiro horror ocorre dentro da gente.

Foi isso que a equipe Team Silent viu ao fazer o jogo Silent Hill 2, eles não viram apenas um gênero de terror, eles viram uma oportunidade de abordar temas complexos.
Por isso Silent Hill 2 foi uma evolução pra época, não porque teve ótimos gráficos, mas porque os desenvolvedores tinham um propósito, o jogo tinha um significado, eles queriam dizer algo com o jogo, eles queriam usar o vídeo game para tratar de temas complexos da realidade humana.
Talvez a verdadeira evolução esteja nos pequenos jogos que irão passar despercebidos, e que na verdade serão até criticados por não acompanharem a evolução gráfica de sua geração.
Mas talvez a verdadeira evolução esteja naquele desenvolvedor que criou seu jogo querendo passar uma mensagem positiva para outros jogadores, que quis trazer uma experiência que se eternize em quem joga, que marque a vida da pessoa.

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